Atualização do Blog: O que aconteceu para isto ter parado? (Voltarei brevemente)

     Bom, já não venho ao blog desde que as aulas começaram... Não tem dado tempo para preparar publicações nem nada...

    Se tudo correr bem, os intervalos entre publicações poderão ser mais curtos. Ou mais compridos...

    Suponho que quem visita este blog regularmente irá compreender esta situação. O entanto, tenho de admitir que tenho saudades de escrever curiosidades como as que publiquei antes. Há sempre algo novo para aprender, e descobertas que vão sendo feitas.

    As publicações irão regressar brevemente.

    Entretanto, fiquem com a descoberta que fiz esta semana: um excerto da série Mouse Works tal como passou na SIC.

Os Tesouros do Arquivo: Cassetes bootleg em Portugal (Parte 2)

Quais são as curtas-metragens em domínio público?

    Nesta segunda parte, irei falar nas curtas-metragens que se encontram em domínio público.

   Como é que essas curtas conseguiram chegar a esse ponto? Por duas razões: ou os estúdios não se importavam com as curtas em questão ou por mero esquecimento.

As Curtas da Disney

   O mais estranho é que a Disney tem algumas curtas em domínio público. Deixo aqui a lista dos títulos originais das curtas-metragens que se encontram em domínio público.

    Resumindo, a grande maioria dos trabalhos do Walt Disney antes da criação do Mickey estão em domínio público, assim como as propagandas da 2ª Guerra Mundial e uma curta ou outra ocasional em que a Disney poderá se ter esquecido de renovar os direitos de autor.

Warner Bros. e a A.A.P.

    No caso dos Looney Tunes, a lista é extensa e só se encontram em domínio público por desleixo da Warner Bros. na época. Mas o que piorou foi mesmo o facto de terem vendido os filmes à A.A.P. (ou Associated Artists Productions). Isso contribuiu para que grande parte do catálogo deixasse de estar debaixo do teto do próprio estúdio que as criou.

     Como são várias, recomendo consultarem a lista presente na Looney Tunes Wiki.

    O mesmo aconteceu com outras curtas (como curtas da Fleischer Studios, do Popeye, da Luluzinha, Casper e muito mais) que a A.A.P. adquiriu ao longo dos anos.

    Por norma, as capas são tentativas de recriar cenas de uma das curtas incluídas. Muitas vezes, a arte é tão vaga que ninguém iria adivinhar que aquilo serve para representar uma cena da cassete.

    Curiosamente, algumas das curtas em domínio público têm dobragens portuguesas oficiais. Ou seja, a Disney e a Warner Bros. encomendaram dobragens aos estúdios habituais que dobraram as outras produções deles. Por exemplo, existem no mínimo 14 curtas dos Looney Tunes dobradas nos estúdios da Matinha. Portanto, para quem conhece a clássica dobragem portuguesa, sim, o Carlos Freixo também dirigiu essas curtas, para além de ter participado nas mesmas.

  No entanto, foi graças a estas dobragens "clandestinas" que personagens esquecidas como BoskoFoxy e Gabby Goat (todos eles dos Looney Tunes) foram dobradas pela primeira e única vez (exceto o Gabby, que iria ser dobrado por Paulo B. na série New Looney Tunes).

    Gostaria de partilhar uma das curtas em domínio público da Disney que recebeu uma dobragem oficial (com as vozes de Rui Paulo e de Sandra de Castro como Mickey e Minnie, respetivamente).

    Na próxima parte desta saga, irei finalmente falar sobre a qualidade (ou a falta dela) dessas cassetes, assim como algumas comparações com curtas dos Looney Tunes entre as versões bootleg e as versões oficiais.

Os Tesouros do Arquivo: Cassetes bootleg em Portugal (Parte 1)

Aconteceu mesmo? E quem eram as distribuidoras?    

    Link para a 2ª parte ->

    Passemos a uma parte... interessante do arquivo de ToonTown. Para isso, vamos ter que ir ao Arquivo Manhoso dos Irmãos Metralha, onde iremos encontrar cassetes bootleg.

Um exemplo de cassetes bootleg vendidas nos EUA

    O que são cassetes bootleg? Neste caso, são cassetes vendidas sem a permissão dos produtores originais. No caso das que vão ser mencionadas aqui, estas cassetes são permitidas no ponto de vista legal, visto que os direitos de autor das curtas metragens não foram renovados, tendo então caído em domínio público.

    Graças à coleção pessoal do colecionador Afonso Gageiro e ao youtuber O Tal Antiquado, temos conhecimento do conteúdo de muitas dessas cassetes que eram distribuídas em Portugal.

    Antes de passarmos às curtas, se calhar não seria má ideia falar nas distribuidoras. Há dois nomes que se destacam: Trisan e Visa Video.

Trisan


    A Trisan (ou Filmes Unimundos, como é conhecida agora) é possivelmente mais conhecida por ter lançado muitos mockbusters animados, filmes que tentam imitar outros filmes de sucesso (regra geral da Disney) mas de baixa qualidade na animação e nas vozes (principalmente nas versões originais). Por outras palavras, a Trisan distribuía filmes idênticos aos da Dingo Pictures e Burbank Animation Studios, isto quando não eram mesmo os destes estúdios.

    A Trisan também foi responsável por lançar algumas séries mais decentes (como Dennis, o Pimentinha) e por... lançar pornografia, tendo mesmo colaborado com a Hotgold?! Não estou a mentir, é mesmo verdade. Só estou tão chocado como muitos de vocês provavelmente estão.

    Por norma, a Trisan costumava encomendar as suas dobragens dos desenhos animados à Gravisom, à PSB ou à Dialectus.

Visa Video

Logotipo digitalizado por Abernecio (WikiDobragens)

    Agora para talvez o caso mais bizarro. Com capas que mais parecem páginas de livros para colorir que foram reaproveitadas para limpar pinceis, a Visa Video é capaz de ser a pior editora e distribuidora que alguma vez existiu em Portugal.

    O que torna esta distribuidora mais interessante no que toca a cassetes bootleg, é que a Visa Video aparenta ter usado cassetes da distribuidora The Video Bancorp, conhecida pela infame cassete do Popeye que possuía pornografia a meio da fita. Sabe-se que terão usado fitas da The Video Bancorp porque foram descobertas imagens que fazer referência à distribuidora norte-americana, os famosos Math Refreshers e a mensagem de agradecimento pela escolha da cassete (na foto em baixo).

    E tal como a cassete do Popeye da  The Video Bancorp, uma das cassetes da Visa Video também incluía áudio de um filme pornográfico quando aparece a mensagem de que a cassete está protegida por copyright (o que é irónico, visto que se trata de curtas em domínio público).

Imagem obtida por LusitaniaTV

    Esta publicação já está a ser um pouco longa, por isso acho melhor criar uma 2ª parte para esta saga sobre o mercado negro da animação em Portugal que existiu nos anos 90 (e até um pouco na década de 2000).

Biografias Desconhecidas: Oswald, o Coelho Sortudo

     Os grandes fãs Disney já o conhecem como a primeira estrela do Walt Disney antes do Rato Mickey, mas a maioria do comum dos mortais não conhecem este coelho.

Oswald, o Coelho Sortudo

    Criado em 1927 para a Universal Pictures e com a sua primeira curta-metragem intitulada Trolley Troubles, Oswald the Lucky Rabbit foi a estrela que conseguiu catapultar Walt Disney, Ub Iwerks e toda a sua equipa para o sucesso, garantido um lugar na história com a importância que tiveram no mundo da animação.

Poster de Trolley Troubles, 1927

    Com este coelho, surgiram várias personagens para compor o elenco e para aparecerem ao lado do mesmo. Para começar, podemos referir Fanny Cottontail, o primeiro amor de Oswald.

Francine "Fanny" Cottontail em All Wet (1927)

    No entanto, esta foi rapidamente substituída por Sadie Whiskers, talvez agora mais conhecida por Ortensia, nome que ficou oficializado no primeiro jogo do Epic Mickey. Porquê oficializado? Bem, o nome era desconhecido, sendo que o nome Sadie vem de um copyright antigo. Também se desconfia que tivesse o nome Kittie, quando Walt Disney já não era o responsável pelas curtas-metragens do Oswald.

Ortensia em Sky Scrappers (1928)

    Com Ortensia, também apareceram Homer, o irmão mais novo dela, e J. P. Whiskers, o pai.

Homer em All Wet (1927)
 J. P. Whiskers em Rival Romeos (1928)

    E por fim, só falta falar no rival, Peg-Leg Pete. Sim, o mesmo Pete do Rato Mickey. Antes de ele aparecer como um gato, ele era um urso já nos tempos da série Alice Comedies.

Pete e Oswald em Ozzie of the Mounted (1928)

    Bom, devido a problemas contratuais com o produtor Charles Mintz das curtas, Walt Disney e parte da sua equipa saíram, mas a Universal continuou com os direitos de autor da personagem.
    Com a saída de Walt, veio outro Walt. Quem é esse? Walter Lantz, que mais tarde iria criar o Pica-Pau (Woody Woodpecker no original).

Poster do Oswald durante a era Walter Lantz

    Infelizmente, com a saída de Walt (que iria a ter sucesso com o Rato Mickey num estúdio independente fundado pelo próprio Walt e pelo irmão Roy), Oswald foi perdendo a popularidade, chegando a cair no esquecimento e sendo substituído por Andy Panda e por Pica-Pau. No entanto, Oswald ainda apareceu nas revistas de banda desenhada.

Capa da banda desenhada Oswald the Rabbit
    No entanto, a Disney não se esqueceu da personagem. Oswald foi mencionado em vários programas e produções televisivas da Disney.

Oswald no episódio Walt Disney: One Man's Dream (1981), da série de antologia.

    De forma idêntica, a Universal também não se esqueceu das origens deste coelho, sendo que Walt Disney é referido pelo nome numa linha de merchandising que se tornou popular no Japão no início do séc. XXI.

Alguns dos produtos vendidos nos partes da Universal Studios, no Japão

Pormenor da etiqueta dos produtos do Oswald
vendidos no Japão, onde Walt Disney é mencionado

    Aliás, se não fosse essa linha, Oswald iria cair no esquecimento, ficando com a sua última aparição na Universal presa a um cameo num jogo brasileiro para a Sega Mega Drive.

Oswald em Férias Frutadas do Pica-Pau,
para a Sega Mega Drive do Brasil (1996)

    Como referi, Oswald tornou-se popular no Japão, e ainda hoje o é, principalmente com as curtas de Walt Disney com o coelho.

    Nessa mesma altura, a Disney estava a passar um mau bocado no mercado dos videojogos. Nessa altura, surgiu uma ideia que poderia colocar o nome da empresa numa melhor posição, principalmente depois da reputação que os jogos licenciados tinham na época dos anos 2000.
    A ideia que mais persistiu foi um jogo com o Mickey no lugar do protagonista. Quando um membro da equipa de desenvolvimento teve conhecimento da existência do Oswald, a ideia de voltar a tornar a personagem relevante tornou-se num ponto essencial do jogo.

Arte conceptual do jogo Epic Mickey

    Quando se aperceberam que o Oswald não era propriedade intelectual da The Walt Disney Company, Bob Iger, antigo CEO da Disney, prometeu que iria recuperar os direitos de autor assim que assumisse o cargo.

    Dito e feito, em fevereiro de 2006, a ABC (propriedade da Disney) mandou Al Michaels, comentador desportivo da ESPN, para a NBC (propriedade da Universal), visto que o seu parceiro John Madden tinha feito a transferência meses antes.
    Em troca, a Universal cedeu os direitos de autor do Oswald, assim como as curtas da autoria do Walt Disney para a Universal.

Pin comemorativo do regresso do Oswald de 2006

    Assim, começou o desenvolvimento do jogo Epic Mickey, que iria ser lançado em 2010. Esse jogo iria dar a Oswald o reconhecimento tão desejado.

Capa do jogo Epic Mickey (2010)

    Depois disso, Oswald iria ter direito à sua primeira aparição numa produção cinematográfica da Disney em 2013, na curta A Cavalo!, com um cameo curto, mas um Easter Egg que merece o reconhecimento.

Oswald em A Cavalo! (2013)

    Mais tarde, Oswald iria ter mais uns cameos nas novas curtas do Mickey de Paul Rudish, que começaram em 2013.

    No entanto, também devo referir que Oswald também teve um papel numa curta-metragem feita mesmo para o mercado português, que foi fruto de um concurso para promover o jogo Epic Mickey. Nessa curta intitulada de Mickey em Concurso de Música, Oswald é dobrado por Paulo Oom, o dobrador oficial de um certo coelho cinzento da concorrência, Bugs Bunny.

    Algo que eu queria destacar é mesmo uma história de banda desenhada original que Oswald iria receber, intitulada Just Like Magic!, isto fora da franquia Epic Mickey, que também teve direito a BDs originais.

Capa da edição nº 726 de
Walt Disney's Comics and Stories

    Nos parques Disney, Oswald iria aparecer pela primeira vez na Tokyo Disneyland, com a Ortensia a aparecer algum tempo mais tarde em 2018 na Disneyland Paris durante o Disney Fan Daze. Esse evento também iria marcar a utilização do tema musical do Oswald criado nos tempos de Walter Lantz.

Oswald e Ortensia no Disney Fan Daze, na Disneyland Paris (2018)

    E esta foi a biografia do meio-irmão do Rato Mickey, a verdadeira primeira estrela da animação criada por Walt Disney. Sem o Oswald, se calhar a Disney não seria o que é agora.

Biografias Desconhecidas: Dumbela Pato

    Agora que a 2ª temporada do reboot de PatoAventuras está disponível em Portugal, muita gente já conhece a irmã gémea do Donald, a mãe dos trigémeos Huguinho, Zezinho e Luisinho. Ok, se calhar ainda há muita gente que não conhece a Dumbela. Ou devo dizer Della? Thelma? Sim, é difícil dizer qual é o verdadeiro nome… Se calhar é melhor começar por partes.

    Comecemos então pelo início, quando Huguinho, Zezinho e Luisinho apareceram pela primeira vez. Na tira de banda desenhada “Donald’s Nephews” de 1937, Dumbela é mencionada na carta que ela envia para o Donald juntamente com os filhos. Mas ela assina como “prima Della”?

"Donald's Nephews",  Al Taliaferro (1937)

     Bom, pode ter sido um erro, ou simplesmente ainda estavam a criar a árvore genealógica. Mas o pior é a versão francesa, em que quem assina a carta é a Clarabela.

    Em 1938, a curta de animação homónima iria marcar a primeira aparição animada de Hugo, Zé e Luís. Aí, o postal já tem a assinatura da “irmã Dumbella”.

"Os Sobrinhos do Donald" (1938)

    De facto, Don Rosa iria confirmar que Donald e Dumbela/Della são irmãos gémeos na árvore genealógica da família Pato, McPato e Ganso.

"The Duck Family Tree", Don Rosa (1992)

    Então, o que é feito da Dumbela? Bom, há uma história de banda desenhada da Holanda de 2014 que conta o que aconteceu. Felizmente, existe uma versão oficial dessa mesma BD traduzida em português (do Brasil), com o título “Laços de Família” (link para o download aqui, cortesia da Quadridisney).

Capa de "Pato Donald - nº 2442", Editora Abril (2015)

    Mas resumindo, assim como o Donald é marinheiro, Dumbela queria pilotar aviões. Ela acaba por voar numa nave espacial experimental e atinge uma velocidade próxima dá da luz, fazendo com que o tempo passe mais devagar para ela (isto através da Teoria da Relatividade de Albert Einstein).

    E com o reboot de 2017 de PatoAventuras, muito do seu passado tem inspiração nessa BD: o facto de ela pilotar aviões, de se perder no espaço, de estar afastada dos seus filhos durante muito tempo, etc. Eu diria mesmo que o backstory dela foi mesmo baseado nessa BD. Neste reboot, Dumbela iria ser dobrada por Sofia Brito.

Episódio "A Grande Perseguição da Moedinha!"
(T1 Ep. 3), PatoAventuras (2017)

    Agora que ela voltou a ser relevante, será que vai aparecer mais vezes no universo Disney? Afinal, o Oswald the Lucky Rabbit também passou por um grande período em que não era relevante, isto até ter sido lançado o jogo Epic Mickey Mas isso é outra história. Será que a Dumbela vai mesmo estar mais presente na media? Vamos ver…