Os Tesouros do Arquivo: Cassetes bootleg em Portugal (Parte 2)

Quais são as curtas-metragens em domínio público?

    Nesta segunda parte, irei falar nas curtas-metragens que se encontram em domínio público.

   Como é que essas curtas conseguiram chegar a esse ponto? Por duas razões: ou os estúdios não se importavam com as curtas em questão ou por mero esquecimento.

As Curtas da Disney

   O mais estranho é que a Disney tem algumas curtas em domínio público. Deixo aqui a lista dos títulos originais das curtas-metragens que se encontram em domínio público.

    Resumindo, a grande maioria dos trabalhos do Walt Disney antes da criação do Mickey estão em domínio público, assim como as propagandas da 2ª Guerra Mundial e uma curta ou outra ocasional em que a Disney poderá se ter esquecido de renovar os direitos de autor.

Warner Bros. e a A.A.P.

    No caso dos Looney Tunes, a lista é extensa e só se encontram em domínio público por desleixo da Warner Bros. na época. Mas o que piorou foi mesmo o facto de terem vendido os filmes à A.A.P. (ou Associated Artists Productions). Isso contribuiu para que grande parte do catálogo deixasse de estar debaixo do teto do próprio estúdio que as criou.

     Como são várias, recomendo consultarem a lista presente na Looney Tunes Wiki.

    O mesmo aconteceu com outras curtas (como curtas da Fleischer Studios, do Popeye, da Luluzinha, Casper e muito mais) que a A.A.P. adquiriu ao longo dos anos.

    Por norma, as capas são tentativas de recriar cenas de uma das curtas incluídas. Muitas vezes, a arte é tão vaga que ninguém iria adivinhar que aquilo serve para representar uma cena da cassete.

    Curiosamente, algumas das curtas em domínio público têm dobragens portuguesas oficiais. Ou seja, a Disney e a Warner Bros. encomendaram dobragens aos estúdios habituais que dobraram as outras produções deles. Por exemplo, existem no mínimo 14 curtas dos Looney Tunes dobradas nos estúdios da Matinha. Portanto, para quem conhece a clássica dobragem portuguesa, sim, o Carlos Freixo também dirigiu essas curtas, para além de ter participado nas mesmas.

  No entanto, foi graças a estas dobragens "clandestinas" que personagens esquecidas como BoskoFoxy e Gabby Goat (todos eles dos Looney Tunes) foram dobradas pela primeira e única vez (exceto o Gabby, que iria ser dobrado por Paulo B. na série New Looney Tunes).

    Gostaria de partilhar uma das curtas em domínio público da Disney que recebeu uma dobragem oficial (com as vozes de Rui Paulo e de Sandra de Castro como Mickey e Minnie, respetivamente).

    Na próxima parte desta saga, irei finalmente falar sobre a qualidade (ou a falta dela) dessas cassetes, assim como algumas comparações com curtas dos Looney Tunes entre as versões bootleg e as versões oficiais.

Os Tesouros do Arquivo: Cassetes bootleg em Portugal (Parte 1)

Aconteceu mesmo? E quem eram as distribuidoras?    

    Link para a 2ª parte ->

    Passemos a uma parte... interessante do arquivo de ToonTown. Para isso, vamos ter que ir ao Arquivo Manhoso dos Irmãos Metralha, onde iremos encontrar cassetes bootleg.

Um exemplo de cassetes bootleg vendidas nos EUA

    O que são cassetes bootleg? Neste caso, são cassetes vendidas sem a permissão dos produtores originais. No caso das que vão ser mencionadas aqui, estas cassetes são permitidas no ponto de vista legal, visto que os direitos de autor das curtas metragens não foram renovados, tendo então caído em domínio público.

    Graças à coleção pessoal do colecionador Afonso Gageiro e ao youtuber O Tal Antiquado, temos conhecimento do conteúdo de muitas dessas cassetes que eram distribuídas em Portugal.

    Antes de passarmos às curtas, se calhar não seria má ideia falar nas distribuidoras. Há dois nomes que se destacam: Trisan e Visa Video.

Trisan


    A Trisan (ou Filmes Unimundos, como é conhecida agora) é possivelmente mais conhecida por ter lançado muitos mockbusters animados, filmes que tentam imitar outros filmes de sucesso (regra geral da Disney) mas de baixa qualidade na animação e nas vozes (principalmente nas versões originais). Por outras palavras, a Trisan distribuía filmes idênticos aos da Dingo Pictures e Burbank Animation Studios, isto quando não eram mesmo os destes estúdios.

    A Trisan também foi responsável por lançar algumas séries mais decentes (como Dennis, o Pimentinha) e por... lançar pornografia, tendo mesmo colaborado com a Hotgold?! Não estou a mentir, é mesmo verdade. Só estou tão chocado como muitos de vocês provavelmente estão.

    Por norma, a Trisan costumava encomendar as suas dobragens dos desenhos animados à Gravisom, à PSB ou à Dialectus.

Visa Video

Logotipo digitalizado por Abernecio (WikiDobragens)

    Agora para talvez o caso mais bizarro. Com capas que mais parecem páginas de livros para colorir que foram reaproveitadas para limpar pinceis, a Visa Video é capaz de ser a pior editora e distribuidora que alguma vez existiu em Portugal.

    O que torna esta distribuidora mais interessante no que toca a cassetes bootleg, é que a Visa Video aparenta ter usado cassetes da distribuidora The Video Bancorp, conhecida pela infame cassete do Popeye que possuía pornografia a meio da fita. Sabe-se que terão usado fitas da The Video Bancorp porque foram descobertas imagens que fazer referência à distribuidora norte-americana, os famosos Math Refreshers e a mensagem de agradecimento pela escolha da cassete (na foto em baixo).

    E tal como a cassete do Popeye da  The Video Bancorp, uma das cassetes da Visa Video também incluía áudio de um filme pornográfico quando aparece a mensagem de que a cassete está protegida por copyright (o que é irónico, visto que se trata de curtas em domínio público).

Imagem obtida por LusitaniaTV

    Esta publicação já está a ser um pouco longa, por isso acho melhor criar uma 2ª parte para esta saga sobre o mercado negro da animação em Portugal que existiu nos anos 90 (e até um pouco na década de 2000).